A inteligência artificial (IA) saiu do campo da especulação futurista para se tornar uma realidade presente e acessível no ambiente profissional. No entanto, junto ao entusiasmo e às expectativas, cresce também o temor sobre o impacto da IA nos empregos. Um estudo do World Economic Forum (2023) indica que até 2027 quase metade das habilidades exigidas no mercado de trabalho será transformada. Por outro lado, a McKinsey & Company (2023) estima que a IA pode elevar a produtividade global em até 1,5% ao ano, desde que aplicada por profissionais capacitados. Esses dados evidenciam um cenário de mudanças aceleradas, mas também um alerta claro: a tecnologia sozinha não basta para garantir sucesso ou segurança profissional.
O principal desafio está no preparo dos profissionais para usar a IA como uma ferramenta estratégica, e não como uma substituta do conhecimento humano. Dados da Microsoft (2022) apontam que mais da metade dos trabalhadores brasileiros não tem acesso a treinamentos adequados em tecnologias digitais, o que limita severamente o potencial de aproveitar a IA. Além disso, relatório da OECD (2023) destaca que somente 7% dos adultos na América Latina possuem competências digitais avançadas, um dado que expõe uma enorme lacuna na formação técnica e educacional da região. Esse contexto revela um problema estrutural: a IA amplifica o que já existe, e se o profissional não possui repertório técnico, capacidade crítica e aprendizado constante, a ferramenta apenas refletirá essas limitações.
É fundamental compreender que a IA funciona como um amplificador do conhecimento, experiência e disciplina do usuário. Profissionais que cultivam a leitura, o estudo e a atualização constante conseguem potencializar suas decisões e resultados com o auxílio da IA. Por outro lado, quem não investe em conteúdo e aprendizado contínuo se torna refém de respostas superficiais e automatizadas, perdendo espaço para quem domina a tecnologia com profundidade. Uma pesquisa recente do LinkedIn (2023) mostra que 94% dos profissionais brasileiros desejam se aprimorar em novas tecnologias, incluindo IA, mas esbarram na falta de incentivo real das empresas para isso. Portanto, a responsabilidade pela capacitação é tanto individual quanto organizacional.
A discussão em torno da IA não deve se restringir ao medo de perder o emprego, mas sim à necessidade de investir no desenvolvimento de habilidades humanas que a tecnologia não pode replicar, como pensamento crítico, criatividade, resolução de problemas e empatia. Esses atributos serão cada vez mais valorizados e exigidos no mercado, justamente porque são o diferencial que torna a IA útil e estratégica. O futuro do trabalho será liderado por pessoas que entendem a tecnologia, sabem alimentá-la com conhecimento e fazem perguntas inteligentes, não por máquinas que atuam sozinhas.
Assim, o caminho para prosperar na era da inteligência artificial está no equilíbrio entre tecnologia e conteúdo humano. Empresas e profissionais precisam priorizar o aprendizado contínuo, o treinamento prático e a construção de repertório para que a IA seja realmente uma parceira de crescimento. Sem esse investimento, a tecnologia corre o risco de se tornar apenas uma caixa vazia, incapaz de gerar valor real. A verdadeira transformação digital acontece quando a inteligência humana e artificial trabalham juntas, e o diferencial competitivo será sempre de quem domina essa combinação. Portanto, não é a inteligência artificial que irá substituir os profissionais, será quem não souber usá-la que ficará para trás.
*Éric Machado é CEO, especializado em gestão de Tecnologia da Informação (TI) e Supply Chain. Com quase 30 anos de experiência e conhecido por ser um dos primeiros consultores de Oracle EBS e Supply Chain do Brasil, além de já ter atuado em grandes companhias como General Eletric (GE), Xerox, Yamaha, Toyota, Globo, Epson, IBM, Deloitte, LATAM, Cummins e Meritor.
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